Assisti Caramelo. E saí do cinema arrasada.
A história parece banal, mas todos os clichês estão lá. A mulher que é pressionada pela família a se casar, e não tem coragem de contar que namora um homem que já é casado. A mulher que vai se casar mas precisa fingir que é virgem, fazendo até cirurgia de reconstrução de hímen. A mulher que perde a chance de namorar um homem que lhe interessa porque precisa cuidar de uma parenta idosa que já não consegue se cuidar sozinha. A mulher que não usa saia, não se depila, e está bem assim. A mulher que não pode demonstrar a atração que sente por outras mulheres. A mulher que não corta o cabelo por causa da pressão familiar, mas que toma coragem e acaba se libertando desse fardo. A mulher que usa fita crepe nas têmporas (para levantar os olhos!) e finge menstruar porque não aceita envelhecer.
O filme se passa em Beirute, mas, a não ser por detalhes pavorosos (que tal só poder ir a um hotel com um homem se apresentar documento que comprove que são casados? Que tal um policial presumir que uma mulher conversando à noite com um homem é uma prostituta? Que tal ter de chegar ao casamento virgem?), poderia se passar no Brasil também. Aqui as mulheres vivem se preocupando em retardar o envelhecimento, não têm dúvidas que só o casamento “salva”, procuram ser discretas sobre a vida sexual ou mentem o número de parceiros que já tiveram para não serem consideradas promíscuas, disfarçam sua orientação sexual, não mudam a aparência para agradar a família/namorados, abandonam projetos de vida para cuidar de parentes.
Impossível não notar que, sob o manto de “culturas diferentes”, encontramos os mesmos problemas. Eu achava que, por ser um filme sobre o Líbano, encontraria categorias diferentes, mas fiquei foi chocada ao perceber que, na verdade, as mulheres lá continuam vivendo da mesma forma que aqui. Muda a intensidade da opressão, mas os problemas continuam os mesmos.
A opressão se dá de várias formas né? É muito ingênuo achar que aqui vivemos tão melhor assim. Ontem até surgiu uma frase engraçada no twitter, dizia algo sobre “use a burca, ao menos não precisa estar o tempo inteiro magra, sem celulite, sarada e etc”. Eu to assistindo aquela minisérie que passou nos anos 80, chamada Malu Mulher. Muito legal mesmo. E infelizmente, depois de 30 anos quase tudo tá na mesma.
Impressionante como isso é verdade. Toda vez que uma mulher se livra dessas amarras é vista com o pior dos olhares, e o que mais me chateia, são mulheres discriminarem mulheres por serem diferentes do conceito imposto do que é ‘ser mulher’.
Excelente poste, Cynthia. Fique com vontade e medo de ver o filme.
Eu e Rodrigo fomos padrinhos de casamento de um casal, cuja noiva dizia que não cortava o cabelo mais curto porque o noivo não deixava. Resultado? Separaram-se depois de 3 anos. Ela cansou de ser submissa (ainda bem) e ele não suportou ser “afrontado” em suas vontades.
Olá, Cynthia. Conheço seu blog há pouco tempo, mas gostei muito do que li até agora.
Li esse seu post e não consegui concluir se você gostou ou não do filme. Você acha que a diretora (que é a atriz principal, se não me engano) acha que isso é ser mulher ou ela tentou retratar a opressão sobre as mesmas em diferentes situações?
Abraço.
O filme é bom, Daniel. Pelo menos, pras “comédias” água com açúcar. Não é meu tipo de filme favorito. Acho que o foco da diretora foi retratar as mulheres libanesas em diferentes situações, e como, mesmo com toda a opressão, elas ainda encontram algumas formas de resistir. Mesmo assim, tem um gosto bem amargo, especialmente se a gente comparar com a nossa sociedade. Não estamos tão diferentes assim…