A Veja fez uma capa dedicada a uma mulher que vendeu a virgindade. No facebook a Veja compartilhou a capa com a seguinte legenda “Bons tempos em que a virgindade era perdida”.
É curioso notar que a Veja adora ser o baluarte do capitalismo. Mas se posiciona rapidinho como anti-capitalista quando uma mulher decide vender a virgindade (é direito dela!) em um processo totalmente capitalista.
E me choca o termo “bons tempos” para se referir a “perda da virgindade” (outro termo equivocado – relações sexuais não deveriam ser vistas como uma perda, mas como ganho: trazem novas possibilidades de liberdade e prazer).
Bons tempos pra quem? Pras mulheres é que não era!
Até recentemente o hímen rompido sem que a mulher estivesse casada destruía sua vida. Ela era vigiada desde a infância para não fazer sexo antes do casamento. As pessoas se referiam a mulheres não virgens por termos como “se perder”, “ceder”, “cometer um erro”, “ir embora”, “ser usada”, “se tornar pública”.
A mulher passava a ter dificuldades para se casar – justo em uma época em que o casamento era fundamental para o status social das mulheres. Ou então ela teria de ficar feliz por se casar com um homem que a espancasse porque ele aceitou ficar com ela sabendo que estava “estragada” por não ser mais virgem. E se ela não contasse que tinha tido experiências sexuais e o marido descobrisse na lua-de-mel que ela havia sido “deflorada” (que termo ridículo!) por outro ele poderia devolvê-la para os pais, humilhando-a publicamente. Dependendo do crime cometido “contra os costumes” (e não contra a liberdade sexual da mulher) primeiro seriam analisados a honestidade (virgindade ou monogamia) da mulher pra depois ver se era o caso de processar e julgar o agressor. A filha “desonesta” que vivia na casa paterna podia ser deserdada, perdendo o direito a herança.
Tudo isso aí estava previsto em lei e vigorou até recentemente. O Código Civil valeu até 2002 e só em 2005 que o termo “mulher honesta” foi retirado da legislação penal.
É essa vida aí que a Veja acha que eram bons tempos…
Prefiro muito mais os dias de hoje. A pessoa -seja homem ou mulher – pode escolher o que deseja fazer com sua vida sexual e a lei não pode puni-la por isso (obviamente, desde que respeite direitos de terceiros). A mulher não precisa ser virgem para ser respeitada socialmente e tem o direito de vender a virgindade sem ter sua vida destruída pelo preconceito e moralismo sexual. Nunca houve um tempo melhor para ser mulher do que hoje.
Gostei, em geral, do post, particularmente da correta identificação da contradição da Veja em fazer ou não apologia do capitalismo. No entanto, ainda que considere que a mulher deve ter o direito ao próprio corpo respeitado, quer por particulares, quer pelo Estado, não estou convencido a comercialização dele – quer seja da virgindade ou de um um órgão posto à venda – seja um direito. Quer dizer, eu me pergunto se será que a mercantilização de todas as dimensões da vida aumentam ou diminuem nossa liberdade?De qualquer forma, faço o comentário mais como afirmação de meu respeito e admiração pelas suas ideias e engajamento. Abraço.
Haha tb achei engracado. Querem que privatizem tudo, adoram pregar o consumismo, p socialismo merece “a lata de lixo da historia” mas quando se trata do corpo das mulheres, opaaaa. Ai nao pode vender. A gente eh quem tem que dizer a ela o que fazer. Olha…
O mais interessante é que um russo também vendeu a virgindade, junto com essa brasileira, mas sobre ele ninguém se atreve a falar nada.
Longe de querer defender a Veja (longe mesmo) não vejo com esses olhos. Imagino “bons tempos” como tempos de inocência (para ambos os sexos), da descoberta da sexualidade. E sobre a comercialização da virgindade, acredito que a sociedade “tolera” certos assuntos (como alcolismo, prostituição, etc). É socialmente aceitável se embebedar de vez em quando e não é por isso que vamos começar a estimular o consumo de bebida para jovens. Entendo que é total direito de quem o faz, mas não gostaria de viver em um mundo onde é normal leiloar a virgindade ou passar o dia chapado só porque é permitido.
É verdade, concordo com vc. Bons tempos são esses que a mulher pode decidir o que fazer com seu corpo, sua virgindade e seu livre direito. Mas fico me perguntando se se vender é um bom uso desse direito… Será que eu, mesmo acreditando febrilmente que a mulher deve ser livre para escolher por ela mesma o que fazer da sua vida, incentivaria minha filha a se expor dessa maneira se leiloando por dinheiro? Sei não…
Tendo segurança econômica, psicológica, pode fazer o que quiser com a virgindade. A mulher é dona do próprio corpo e pode ser dona total quando se encontra realmente livre enquanto indivíduo. Pode ser raro, mas existe. E vai exisitir cada vez mais na medida em que há progresso.
A verdade é que o moralismo e a hipocrisia andam juntos e por mais moderninhos que possamos achar que estamos existe uma galera estremamente moralista e e para esse público que a revista esta mirando, fora o fato da veja ser o que é, que já sabemos bem. A virgindade sempre foi e em muitos lugares ainda é uma “moeda” valiosa, Só que em tempos antigos, ou em lugares cuja cultura aida se vale de oprimir a mulher com tais conceitos, fora o “status” para a mulher que se casava, saindo do domínio patriarcal, para o domínio conjugal, ela não ganhava nada com isso. Minha estranhesa nem é tanto com a menina vendedora da virgindade, meu espanto é que ainda haja alguém com esse tipo de desejo, mas por outro lado desejo é desejo, cada um tem o seu e se o dinheiro puder pagar e não for ferir ninguém, o que que eu tenho haver com isso?
Adorei, você como sempre maravilhosa com as palavras!!!!
Cynthia, é muito bom quando a gente se depara com uma opinião até então diferente da nossa e vê que pode mudar. Não concordava tanto com a atitude da menina em vender a virgindade dela, porque, sei lá, achei totalmente sem sentido, principalmente, pelos motivos que ela disse que teria vendido. Mas, enfim, olhando por esse lado da liberdade que hoje nós mulheres podemos ter, é realmente muito bom que esse tipo de coisa possa acontecer.
impressionante essa veja, né cynthia? estava outro dia mesmo lembrando das minhas amigas, quando era adolescente. o medo que elas tinham de perder a virgindade se usassem o.b. ou, ainda, meninas que praticavam diversas formas de sexo que não o vaginal, para se conservarem “virgens” e garantir o tal bom casamento… eu já achava aquilo uma loucura. mas era muito comum esse pensamento. fico feliz de ver gerações mais jovens mais tranquilas com sua sexualidade. sem tanto medo. ou culpa.
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Cara, o absurdo (sou advogada) é que tudo isso existia até 2002!!!! Tinha conhecedor que fazia uso desses artigos ‘em desuso social’ e felizmente sem sucesso porque a lei deve ser aplicada e atender função social, de acordo com a razoabilidade e aplicabilidade.
Só falta ainda uma luta nesse sentido (ao meu ver) que é descriminalizar o aborto. E dar suporte para que hajam abortos seguros.