A Revista de Estudos Feministas fez uma homenagem a Heloneida Studart. Destaco um trecho da entrevista de Heloneida, contando como se tornou feminista:

Acho que comecei a ser feminista quando eu tinha uns seis anos no Ceará, e a minha família ia passar as férias no interior, na praia. Ao passarmos por um botequim, eu vi na parede um cartaz que até hoje não me sai dos olhos, onde estava escrito: “Mulher aqui só diz três coisas: ‘Entra, menino’, ‘Xô, galinha’, e ‘Sim, senhor'”. Esse “Sim, senhor” me marcou profundamente. Eu era uma menina filha de uma família que só tinha irmãos homens, fiquei muito balançada com aquilo e achei, embora fosse apenas uma criança, que era um absurdo que o destino de uma mulher fosse dizer “Sim, senhor”. Depois, crescendo em uma família muito tradicional, muito conservadora, a família do Barão de Studart, eu vi que as mulheres viviam sempre uma frase – “Mulher não tem querer” – e que todas as mulheres eram preparadas para se tornarem esposas aos 18 anos, aos 17, sem irem para a faculdade, sem trabalharem fora, e passando do governo do pai para o governo do marido. Então, aos 12 anos, eu já tinha decidido que esse não seria o meu destino, e eu dizia isso seguido nas rodas da família, e as pessoas ficavam bastante escandalizadas, bastante chocadas. Quando eu tinha 16 anos fui para o interior, de carona, e arranjei uma certidão de idade aumentada para 21 anos…