Vou falar aqui das mesas específicas do Campus Blog sobre “Mulheres nas mídias sociais” e “Is internet for porn?” (por que o nome em inglês? Puritanismo?), e fazer mais algumas observações sobre o que notei do evento como um todo em relação às mulheres. É mínimo perto de tudo o que aconteceu e, embora pareça que eu não tenha gostado, eu adorei a experiência, e quero voltar em 2010.

  • Senti muita falta de uma visão mais crítica na mesa sobre pornografia. Direitos de imagem têm de ser restritos, sim. Não tem graça alguém quebrar a confiança e distribuir fotos e vídeos do/a parceiro/a ou de terceiros/as sem autorização. Achei horrível a parte em que discutiram como preparar um pai para receber, por e-mail, fotos da filha fazendo sexo. Primeiro, pelo machismo da coisa toda (se for homem, está ok? Por que só mulher que tem de exercer sua sexualidade escondida do papai?) Segundo, por que ficaram rodeando o assunto, mas ninguém falou que tem de fortalecer a auto-estima da filha, para que ela não aceite um/a namorado/a que quer controlar sua imagem e sexualidade. Quem tem de ter controle sobre sua imagem e sexualidade é a mulher, e ela tem de aprender isso desde a infância. Esse assunto não é pra ser tratado como piada ou com comentários sobre o constrangimento do pai.
  • Ainda não entendi porque tinha Coelhinha da Playboy na Campus Party. A revista é para maiores de 18 anos. No evento, havia uma infinidade de adolescentes e crianças. Se não podia entrar álcool na Campus Party por causa das crianças, por que podiam entrar mulheres vestidas de forma a explorar a sexualidade masculina divulgando revista para maiores de idade? E por que todos os flashes tinham de ir para elas (e para as moças do stand da Axe – outra marca voltada para homens), como se fossem as únicas representantes das mulheres no evento? Nós, mulheres campuseiras, éramos quase 1/3 dos participantes, mas para nós não teve ações de marketing específicas, e só recebemos um espacinho no Campus Blog, na hora do almoço. Péssimo exemplo para as meninas que estavam lá: vão crescer achando que sucesso feminino significa ser Coelhinha da Playboy… Pra piorar, não ajuda nada ler coisas como “mulheres dão charme ao evento”, como se elas fossem só ouvintes enfeitando o ambiente e não tivessem contribuições técnicas a fazer.
  • Já que as Coelhinhas estavam lá, que fossem tratadas com o respeito que seres humanos merecem, né? Infelizmente, não foi isso que aconteceu. Desde a década de 60, a vida de Coelhinhas da Playboy é fazer com que homens imbecis se sintam o máximo ao mesmo tempo que fogem do assédio deles. Na Campus Party teve um homem que se excedeu e bolinou uma das Coelhinhas, fazendo com que todas elas abandonassem o evento. Isso gerou a indignação dos demais participantes (espero sinceramente que tenha sido por causa da grosseria, e não porque as moças foram embora!), obrigou o assediador a apagar o twitter, e teve grande repercussão. Foi ótimo ver essa reação furiosa e ler posts inteligentes repudiando a grosseria. Ainda bem que existem homens que tratam mulheres como seres humanos, e entendem que elas têm direito ao próprio corpo, e a decidir quem põe a mão nele ou não.
  • Falando em grosserias, Lady Rasta levantou a questão das mulheres que foram assediadas pelos seguranças. Eu só consigo pensar que todas nós temos de seguir o exemplo da Lola, por mais que vá contra a educação que recebemos… afinal, o corpo é nosso, e é a nossa vontade que tem de ser respeitada. Não tive problemas de assédio (minha cara fechada ajuda muito nesse aspecto), mas a grosseria com que revistavam minha bolsa era assustadora. Ou seja: faltou treinar os seguranças para terem um mínimo de educação…
  • O que me chamou a atenção na mesa sobre mulheres nas mídias sociais foi o repúdio aos rótulos, aos estereótipos, e a conclusão de que mulheres estão mais livres para exercitar outras formas de viver que não sejam as tradicionalmente aceitas. As mídias sociais são fundamentais para isso, pois facilitam o contato e a divulgação outras visões de mundo, desfazendo estereótipos. Em todo debate sobre universo feminino, o assunto sempre se volta para a pluralidade de visões, a conciliação com outros pontos de vista, a mobilização social e o desenvolvimento de algo que vai além do proposto inicialmente. Isso é típico do olhar feminino, culturalmente (e não geneticamente) habituado a analisar, aparar arestas e procurar soluções que atendam aos interesses de todos os envolvidos.
  • Ainda me impressiona o tanto de mulheres que têm receio ou vergonha de se assumirem como mulheres, com todas as idiossincrasias e características que culturalmente nos foram impostas. Negar que somos mulheres, e pensar como “humanos” é uma forma de valorizar apenas a voz da maioria, que ainda é masculina. Nessa toada, perdemos nossa cultura, nossos avanços e nossas particularidades… acho que o caminho é nos assumirmos como mulheres, sim… algumas de nós somos mais maternais, outras mais agressivas, algumas gostam de crochê, outras gostam de automobilismo, e somos todas mulheres. Por isso, concordo com a Gabi quando a gente falava que só é luluzinha quem se assume como mulher. E estou aguardando ansiosamente o selo “Eu sou Luluzinha”
  • Adorei conhecer a Anna Frank, eu acompanho o blog dela há anos, mas sabia pouco sobre ela, e fiquei encantada por encontrar na Campus Party uma militante feminista com atuação fantástica no combate à violência contra mulheres. Lu Freitas é outra que merece mil elogios, ela falou tudo o que eu queria falar, mas com toda a diplomacia e educação que todo mundo merece (eu ainda aprendo a ser assim!) Mas, de modo geral, senti muita falta de ouvir mais vozes femininas… a mesa do sábado foi pouco pra nós.
  • Sugestões para o ano que vem: que tal uma mesa só com mulheres falando de pornografia e sexualidade? Que tal cada área temática ter uma mesa para as mulheres se manifestarem sobre gênero ou o que mais desejarem falar? Garanto que os resultados serão interessantíssimos. Que tal planejar o evento pensando que em 2010 o número de mulheres aumentará mais ainda, e merecemos um espaço adequado para nos receber, com melhor segurança, boas condições de higiene, atrações e brindes específicos?