Assisti Caramelo. E saí do cinema arrasada.

A história parece banal, mas todos os clichês estão lá. A mulher que é pressionada pela família a se casar, e não tem coragem de contar que namora um homem que já é casado. A mulher que vai se casar mas precisa fingir que é virgem, fazendo até cirurgia de reconstrução de hímen. A mulher que perde a chance de namorar um homem que lhe interessa porque precisa cuidar de uma parenta idosa que já não consegue se cuidar sozinha. A mulher que não usa saia, não se depila, e está bem assim. A mulher que não pode demonstrar a atração que sente por outras mulheres. A mulher que não corta o cabelo por causa da pressão familiar, mas que toma coragem e acaba se libertando desse fardo. A mulher que usa fita crepe nas têmporas (para levantar os olhos!) e finge menstruar porque não aceita envelhecer.

O filme se passa em Beirute, mas, a não ser por detalhes pavorosos (que tal só poder ir a um hotel com um homem se apresentar documento que comprove que são casados? Que tal um policial presumir que uma mulher conversando à noite com um homem é uma prostituta? Que tal ter de chegar ao casamento virgem?), poderia se passar no Brasil também. Aqui as mulheres vivem se preocupando em retardar o envelhecimento, não têm dúvidas que só o casamento “salva”, procuram ser discretas sobre a vida sexual ou mentem o número de parceiros que já tiveram para não serem consideradas promíscuas, disfarçam sua orientação sexual, não mudam a aparência para agradar a família/namorados, abandonam projetos de vida para cuidar de parentes.

Impossível não notar que, sob o manto de “culturas diferentes”, encontramos os mesmos problemas. Eu achava que, por ser um filme sobre o Líbano, encontraria categorias diferentes, mas fiquei foi chocada ao perceber que, na verdade, as mulheres lá continuam vivendo da mesma forma que aqui. Muda a intensidade da opressão, mas os problemas continuam os mesmos.