Ultimamente tem me cansando muito ver gente acreditando que humor tem de ser irreverente e zombar das pessoas, mesmo quando reproduz os piores preconceitos do mundo. Consideram-se pessoas moderninhas, divertidas, criativas. Usam “humor” para segregar, pra esconder, pra criar constrangimento, para ridicularizar. Acreditam que é revolucionário zombar de minorias políticas e que progresso e modernidade estão intrinsecamente ligados a apagar todas as conquistas da geração anterior. Mas…

O humor nem sempre é progressista. O que caracteriza o humor é muito provavelmente o fato de que ele permite dizer alguma coisa mais ou menos proibida, mas não necessariamente crítica, no sentido corrente, isto é, revolucionária, contrária aos costumes arraigados e prejudiciais. O humor pode ser extremamente reacionário, quando é uma forma de manifestação de um discurso veiculador de preconceitos, caso em que acaba sendo contrário a costumes que são, de alguma forma, bons ou, pelo menos, razoáveis, civilizados, como os tendentes ao igualitarismo, sem dúvida melhores que os seus contrários.
POSSENTI, Sírio. Os humores da língua: análises linguísticas de piadas. Campinas: Mercado das Letras, 1998. p.49.

Ou seja, essas pessoas posam de modernas, mas são retrógradas. Não querem admitir o preconceito abertamente, então apelam pro humor, defendendo um estilo de vida ao estilo de 1950. Esquecem-se que tem uma Constituição no meio do caminho, e que ela veda qualquer tipo de discriminação. E, ao não terem a menor empatia pela situação de outras pessoas, isolam-se num mundo “ideal” que compreende, com boa vontade, 1% das pessoas. É triste ver que tem tanta gente que tem orgulho de viver em uma torre de marfim.