Oito de março é o Dia Internacional da Mulher. Antes de ir pra caixa de comentários me desejar parabéns, é melhor ler este post com atenção.

Não estou falando de dia de festa, de comemoração, de presentes, de celebrar “a beleza feminina que enfeita o mundo” (é, eu já ouvi isso. Blergh!), nem é dia de ouvir homens que não gostam de mulheres (pelo menos, mulheres que não se enquadram nessa história romântica de beleza e perfeição maternal) agradecendo a elas por existirem.

O Dia Internacional da Mulher é dia de luta. Hoje temos muitos direitos, mas é só olhar os posts abaixo pra ver que não tem nem 100 anos que nós, brasileiras, conquistamos o direito ao voto. Durante muitos séculos fomos consideradas úteis apenas para procriar, e ainda tem muita gente que pensa assim. Em várias épocas de miséria e opressão, as mulheres foram fundamentais para fazerem panelaços, barricadas e passeatas exigindo mudanças na política e na economia, só que, quando os protestos surtiam efeito, elas eram excluídas do processo de reconstrução. Ainda hoje existem muitas mulheres que adoecem por falta de comida, pois os melhores alimentos devem ir para os homens (que trabalham fora) e as crianças. Muitas mulheres têm de abrir mão do estudo porque engravidaram e não têm quem cuide dos filhos. A maioria dos homens ainda não entendeu que, pra serem “pais de família”, precisam dar tanta atenção aos filhos quanto as mães dessas crianças, e não abandoná-las pelo mundo. A maior parte dos maridos não sabe dividir tarefas domésticas, nem dá valor à sua casa, acreditando que essas questões são exclusivamente femininas. A maior parte das pessoas se julga no direito de definir como uma mulher deve organizar sua vida, como ela deve cuidar do seu corpo e quais devem ser as atividades convenientes para sua posição social. Ainda hoje educamos meninas para serem submissas, casadoiras e sombras do marido, enquanto os meninos são criados para mais tarde gerenciarem uma esposa-secretária. Mulheres precisam ser bonitas para serem consideradas excelentes profissionais; homens bem sucedidos podem ser feios ou simpáticos. A entrada maciça de mulheres no mercado de trabalho revelou diversos problemas que ainda não foram solucionados, desde a disparidade de salários em relação aos homens e de possibilidades de ascensão profissional, até a necessidade de creches e o marido que se considera dono da mulher e não aceita que a esposa tenha vida profissional e pessoal longe de seu controle. A violência contra mulheres, e problemas de saúde femininos, recebem muito menos atenção e solução que as mesmas situações em suas versões masculinas. A violência doméstica é tão desvalorizada que gente que se diz esclarecida procura os motivos mais absurdos para justificar o fato de uma pessoa resolver suas frustrações espancando e ofendendo uma outra pessoa que considerada inferior e, portanto, merecedora de violência.

Com tantos problemas a serem resolvidos, por que parabenizar as mulheres? Ah, deve ser porque elas têm motivos para fazer uma revolução, mas estão quietinhas no canto delas, que, aliás, é o lugar de onde não deveriam ter saído… pensamento altamente preconceituoso e machista, esse. Mas é isso que você, que acha que é moderno, inteligente, charmoso e educado, está transmitindo ao adotar o clichê do parabéns.

Portanto, ao invés de parabenizar as mulheres pelo dia delas, pense como você contribui para que esse dia seja necessário. Reflita sobre a disparidade na situação de homens e mulheres em sua casa, em seu ambiente de trabalho, em sua vizinhança. Lembre-se do quanto você acha que mulheres são inferiores e devem ser submissas, a ponto de dizer “já conseguiram muita coisa, mas agora estão exagerando”. Mudar essa situação, reconhecendo no dia-a-dia que homens e mulheres devem ser iguais em direitos e deveres, mudando atitudes discriminatórias que atentem contra essa igualdade, é o melhor “parabéns” que pode existir.