Circulou há pouco tempo no facebook um texto que dizia mais ou menos o seguinte: “quando a sociedade considera racismo, homofobia e machismo como assuntos de esquerda eu passo a ter medo da direita“. Já disse antes que não sou fã da polarização esquerda x direita e agora é um bom momento para falar um pouco mais sobre isso.

Associamos a luta por direitos humanos à esquerda porque foi a esquerda que se intitulou titular dessas pautas. Só que… a esquerda não tem e nunca teve o monopólio da defesa dos direitos humanos, particularmente machismo e homofobia (e os rifou quando esteve no poder para garantir a governabilidade).

Tem muitos (mas muitos mesmo) artigos, comentários e comportamentos machistas, racistas e homofóbicos em qualquer movimento de esquerda. Por outro lado, muitos direitos de minorias foram defendidos por pessoas de direita, e muitos foram conquistados em governos de direita. O mundo não se divide entre esquerda boazinha x direita vilã. Nem entre esquerda vilã x direita boazinha. As relações são bem mais complexas que isso e não cabem na polarização.

Machismo: você prefere lidar com o de direita ou o de esquerda?

Machismo: você prefere lidar com o de direita ou o de esquerda?

Como já disse a Sueli Carneiro: “entre direita e esquerda eu continuo sendo preta“. Nos casos de homofobia, racismo ou machismo o foco da questão não é ser de direita ou esquerda. O foco é perceber a discriminação e combatê-la com legislação e políticas públicas específicas.

Particularmente, posso até achar (e acho) que as políticas de esquerda vão ser melhores. Mas se vão ser melhores mesmo, ou se serão promessas a serem usadas como massa de manobra, ou se serão implementadas em um governo de direita (sim, pode acontecer), aí não temos como dizer a menos que sejam efetivamente aplicadas. E nesse ponto tanto esquerda quanto direita deixam muito a desejar, tratando questões de minorias como temas secundários (ou mesmo indesejáveis) e protelando legislação e políticas públicas antidiscriminação.

Na realidade temos de ter medo do que tanto a direita quanto a esquerda podem fazer na pauta de direitos humanos. Podem se aliar ao que tem de mais abjeto e reacionário. Podem violar o Estado laico para reduzir direitos e ampliar discriminações. Podem inventar uma nova constituinte que reforçará valores conservadores e contrários às minorias, e que tem o potencial de destruir décadas de conquistas, inclusive direitos sociais. Já fizeram isso antes, e tudo indica que continuarão fazendo.

Sensibilizar para direitos de minorias, angariar simpatizantes e apoio para projetos antidiscriminação, tudo isso enquanto evita perda de direitos, é uma luta diária, incessante, que transcende a questão direita x esquerda. Entra governo, sai governo, não importa o espectro político: a luta contra machismo continua.

[publicado originalmente no Facebook em 22/05/2016]

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