Comprei a Folha de domingo por causa do especial com a análise da família brasileira. Fiz isso depois que li este post da Vanessa com um resumo da pesquisa, e fiquei intrigada com a afirmação de que “lugar de mulher é em casa”.
Na página 09 do caderno especial, além do texto linkado acima, tem um gráfico com a seguinte pergunta: A mulher deve deixar de trabalhar fora para cuidar dos filhos? As respostas são:
59% discordam
33% concordam
8% nem concorda, nem discorda
Ou seja, 59% (mais da metade!) dos entrevistados acham que a mulher não deve deixar de trabalhar fora para cuidar dos filhos. No entanto, a chamada e o comentário distorceram o resultado ao optar por enfatizar os 33% (apenas um terço) que acham que as mulheres não devem trabalhar fora. Esses 33% variam de acordo com o sexo: 36% para homens e 30% para mulheres. Não foram informadas as respostas por sexo correspondentes aos 59%.
Quem lê apenas a chamada (“lugar de mulher é em casa”) e o texto, e não compara com o gráfico, fica com uma impressão equivocada do resultado, pois parece que as feministas estão se debatendo contra uma sociedade que acredita que mulheres não devem trabalhar fora. Na realidade, o que temos é o oposto: um grande apoio às mulheres com filhos trabalharem fora de casa.
Depois eu termino de ler o caderno especial. Mas já estou bem desconfiada da seriedade da pesquisa e dos resultados. Não apresentaram a metodologia, apenas informaram que foram entrevistadas 2093 pessoas maiores de 16 anos em 211 municípios. Embora alguns temas sejam separados por sexo, não informaram quantos homens e mulheres compõem o grupo pesquisado, nem quais as faixas de idade. Pra piorar, existem algumas perguntas bastante imprecisas, como “ter comportamento homossexual”. Pelo auê da Folha, esperava um pouco mais de seriedade.
Infelizmente, nada de novo no reino dos Frias.
Ótima análise, Cynthia.