Às vezes fico chocada quando percebo a quantidade de coisas que já comi, mas que não comeria de novo, nem indicaria pra ninguém. A última vez que pensei nisso foi lendo este post da Cam sobre a alimentação estapafúrdia de nossa infância.

Até que minha família era bem cuidadosa com comida: muitas frutas e legumes sem agrotóxicos (às vezes colhidos no quintal) e, ao contrário dos meus coleguinhas, sobremesa e refrigerante eram dádivas recebidas em visita às avós e dias de festa. Minha mãe não incentivava doces, mas às vezes cedia aos pedidos e comprava algumas guloseimas na padaria: biscoito de monstrinho que já vinha mordido (eca!), balas, chicletes, fandangos e chocolates de todos os tipos. Houve uma época em que tudo tinha sabor de cereja. Sabor artificial, bem entendido. Eu, que sou apaixonada por cerejas, até hoje não descobri que “coisa” havia inspirado(?) aquele sabor, que de cereja só tinha o nome. Mesmo assim, sempre pedia pra minha mãe comprar. Hoje esse masoquismo já passou e, se percebo que tem sabor de cereja, ignoro solenemente.

Nos últimos anos entendi que nós, mineiros, temos hábitos alimentares bem pouco recomendáveis. Mas ninguém estranhava comer TODO DIA ovo e carne na mesma refeição. Sem falar nas frituras de todos os tipos: banana, ovo, queijo, verdura refogada, batatas (as da minha avó eram um espetáculo), bife à milanesa bem encharcado de óleo (o que eu fazia era odiado por ser muito seco!), farofa feita com o restinho de gordura da carne assada, bolinhos de chuva com canela, biscoito de polvilho. E olha que ainda não citei o arroz e feijão refogados em muito óleo ou bacon, e o pão de queijo santo de todo dia. Antes que perguntem: o meu colesterol é normal.

Era comum as mães incentivarem o crescimento saudável dos filhotes fornecendo, além da alimentação fabulosa já descrita, doses diárias de vitaminas e fortificantes. De tudo, a pior das minhas recordações é uma tal de “emulsão scott”. O troço parecia cola, com um gosto horrível, deve ser o equivalente ao óleo de rícino das gerações anteriores. Não tinha bife de fígado, biotônico fontoura, cápsulas esquisitas, caracu batida com ovo, vitamina de beterraba e couve (sem coar e sem açúcar), que fossem pior que aquilo.

Mas só percebi o quanto a tal emulsão me traumatizou no ano passado. Eu estava olhando produtos diet numa farmácia quando uma moça veio me explicar que a emulsão scott estava se reposicionando no mercado, com um gosto melhor e novos sabores, e me ofereceu uma amostra grátis. Num segundo eu lembrei dos detalhes daquela porcaria e me senti mal, com tontura, náuseas e lágrimas. Berrei “O QUÊ? Isso ainda existe?” e saí correndo da farmácia, pois o meu impulso foi de espancar a mulher! Como alguém ousa vender uma coisa daquelas, mesmo “melhorada” e traumatizar mais gente inocente??? Pior, e ainda oferecer para os incautos???