Estudo divulgado nesta nota da BBC relacionou horas extras e estado civil das mulheres para concluir que aquelas que se dedicaram ao trabalho, fazendo muitas horas extras, um ou dois anos antes do divórcio, agiram assim porque estavam prevendo o fim do casamento e precisavam trabalhar muito para conseguirem se sustentar sozinhas.
Esssa questão é complexa, e pode render mil posts. Não discordo de algumas observações da reportagem, mas o que essa “pesquisa” induz, nas entrelinhas, é a crença de que as mulheres estão fazendo horas extras porque querem o fim do casamento. Acho muito arriscado pensar assim. Primeiro, por jogar a culpa pelo fim do casamento no fato de a mulher trabalhar fora de casa. Segundo, porque nem sempre trabalhar demais significa uma crise pessoal ou familiar, pode ser simplesmente um investimento necessário na progressão da carreira. Terceiro, querer o fim do casamento é uma situação drástica, quantas pessoas agem assim deliberadamente? Colocar tantas opções apenas na categoria “previsão” é leviano demais.
A primeira explicação que pensei para os divórcios um ou dois anos depois do início das horas extras foi que ele decorreu de as mulheres priorizarem a carreira, assumindo uma carga de trabalho que exigiu muito tempo, mas o companheiro não aceitou bem o fato. Isso me parece bem mais plausível, pois todas as pessoas que se dedicam a uma carreira chegam em um ponto em que precisam trabalhar um pouco mais, só que nem todos os casais estão preparados para esses momentos.
Quando um casal pede conselhos sobre a interferência do trabalho do cônjuge no casamento, encontra reações diferentes, de acordo com o gênero. Às mulheres, dizemos que elas têm de se acostumar com a ausência do marido, pois ele está trabalhando para o conforto da família (o velho mito do provedor do lar). Aos homens, dizemos que eles estão sendo abandonados, e que devem exigir mais atenção da companheira. Se um homem levar esse conselho ao pé da letra, tudo o que conseguirá é ignorar a realização pessoal da companheira e criar um impasse: ou o trabalho ou o casamento. O resultado depende de cada pessoa, mas desconfio que, cada vez mais, entre escolher um provedor autoritário e um trabalho que pode ser muito gratificante, as mulheres escolherão o trabalho…
O que eu vejo é bem o contrário: pessoas (justiça seja feita, em geral homens) que ficam tempo demais no trabalho, às vezes até sem necessidade, porque não querem voltar para casa e para a vida ruim que estão levando. Mas essas coisas não têm regra, né? Vai saber. Bjs
Acho que a pesquisa reflete um contexto específico, isto é, a situação onde foi realizada. As horas extras aqui no Brasil decorrem de vários fatores, como 1. patrão que contrata número insuficiente de funcionários, obrigando-os a cumprir jornada tripla de trabalho. 2. Desorganização do ambiente de trabalho. 3. Criação de laços sociais com os colegas. 4. Transformação do ambiente do trabalho em “área de lazer”. Explico: é impressionante a quantidade de pessoas que ficam até as tantas no serviço, bebendo, comendo pizza (eca!) e principalmente acessando sites de relacionamento, orkut, MSN, sites pornôs e de jogos eletrônicos, especialmente jogos coletivos. E concordo com a Monix em um ponto: a maioria dos que prolongam a jornada de trabalho são homens. (onde trabalho posso comprovar isso; as mulheres permanecem em minoria, porque todas têm casa e filhos para cuidar).
E outra coisa: fazer hora extra no Brasil não se traduz em conta bancária mais polpuda, porque em alguns ramos de trabalho, como Comunicação, por exemplo, elas não são pagas.
A relação horas extras x casamento é muito complicada de discutir…