Revistas femininas adoram falar o quanto a mulher deve se enfeitar e se preparar para encontrar “o homem”. Só que, ao invés disso, deveriam criticar o quanto a mulher é condicionada, desde a infância, para depender de outras pessoas, especialmente no gerenciamento de dinheiro. Depois de encontrar “o homem”, uma mulher pode encontrar também sua ruína financeira, simplesmente porque confia nele a ponto de emprestar seu nome, suas economias, assumir empresas, pagar dívidas que não contraiu, viver na miséria…

Matéria de hoje no O Tempo aborda exatamente o problema das mulheres que, confiando no marido ou namorado, perderam o controle financeiro e se afundaram em dívidas. Lá também tem algumas superficialidades, como vincular o tipo de gasto com signos do zodíaco, mas isso não compromete o objetivo da reportagem: abrir os olhos das mulheres para que saibam separar a relação amorosa da relação financeira.

Quando li “O Machismo Invisível“, da Marina Castañeda, fiquei impressionada com o capítulo dedicado à relação – praticamente nula – das mulheres com o dinheiro. Somos condicionadas a acreditar que só os homens são especialistas em finanças e que o controle do dinheiro está vinculado à opinião masculina (forçando mulheres a prestarem contas – como se fossem crianças – e usarem artimanhas para obter o dinheiro necessário para as despesas domésticas, sendo que raramente há prestação de contas da parte masculina). Há ainda o mito romântico de que a relação amorosa, para as mulheres, deva ser de confiança e compartilhamento total, resultando em decepções financeiras durante o casamento ou divórcio.

Já se foi a época em que o salário das mulheres era todo entregue ao marido, mas infelizmente ainda falta muito para as mulheres aprenderem a gerenciar suas finanças sozinhas. Como resolver isso? Exigindo participar da administração dos bens da família, falando de dinheiro, fiscalizando investimentos e gastos, separando emoção e finanças. Mulheres sabem administrar dinheiro, sim, tanto é que administram as necessidades de suas casas, muitas vezes sem apoio da própria família. O problema está em entenderem que não vale a pena transferir sua independência administrativa para a opinião masculina, só porque existe o mito de que homens são melhores administradores. Se o fossem, mesmo, aquela reportagem que citei acima não existiria.