A Denise Arcoverde propôs uma blogagem coletiva para a Semana Mundial da Amamentação. Até a Sofia postou! E aqui tem a lista completa dos blogs e fotologs participantes.
Como não entendo praticamente nada sobre amamentação, ia deixar a participação somente pra Sofia. Mas me lembrei de ter lido um artigo muito interessante* contando que na França, durante a virada do século XIX pro XX, a mentalidade da sociedade possibilitou o desmame das crianças por ordem médica, ajudando as fábricas de alimentos infantis a introduzir seus produtos pretensamente saudáveis.
O senso comum da época afirmava que a mãe podia estragar seu leite com uma série de condutas e situações “impróprias”: estar nervosa, contrariada, menstruada, triste, cansada, suada, ter relações sexuais “fogosas”. Todos esses eram motivos para interromper a amamentação, pois interferiam na qualidade do leite, podiam envenenar e até matar o bebê.
Os médicos cresciam ouvindo falar nessas condições, e nas faculdades a falta de pesquisas, ou pesquisas mal feitas, reforçavam esses mitos. O resultado? Os doutores impediam as mulheres de amamentar e, como as crianças precisavam ser alimentadas, as alternativas eram leite de vaca e uma indústria de alimentos especiais para recém-nascidos.
E, se observarmos bem, hoje nós continuamos com alguns mitos, procurando motivos para interromper a amamentação: o peito cai, o corpo não volta ao normal, a jornada de trabalho atrapalha, o marido perde o interesse, vicia ou sexualiza precocemente a criança, é ofensivo amamentar em público… apenas as empresas especializadas em alimentos para substituir a amamentação ganham com tanta desinformação.
Campanhas como a Semana Mundial da Amamentação são excelentes para destruir ou relativizar alguns desses mitos, pois trazem oportunidades de esclarecimento a quem não tem acesso à informação. A adição de blogs e fotologs ainda permite o compartilhamento de experiências. Pra quem ainda tem dúvidas, recomendo a leitura dos posts e comentários, o resultado ficou muito interessante.
* FINE Agnès. Leite envenenado, sangue perturbado.: saber médico e sabedoria popular sobre os humores femininos (séculos XIX e XX). In: MATOS, Maria Izilda Santos de, SOIHET, Rachel (org). O corpo feminino em debate. São Paulo: Unesp, 2003. p.57-78.