Muita gente diz que gostaria de viver no século passado (ou até em anteriores), em uma época em que as mulheres eram tratadas com delicadeza e o mundo não era tão sexualizado. A B. conta um pouco do resultado da educação que as mulheres recebiam nessa época:

Dia desses, a vizinha (64 anos) conversava com a minha mãe (65 anos): “Meu marido não me respeita! Ele não percebe que sou uma senhora idosa. Quer fazer sexo comigo!” A última frase foi dita bem baixinho, só ouvi pois minha mãe repetiu em tom normal de voz sorrindo: “Levante a mão pro céu ele manter o desejo por você, poderia estar procurando na rua…” E ela completou desconsolada: “Preferia… Preferia que procurasse na rua…”

Esta vizinha é de uma geração incomparável à minha. Casou virgem, nunca trabalhou fora, teve quatro filhos e já confidenciou à minha mãe em outro momento que nunca teve um orgasmo. Ao longo da vida, só conheceu um homem na cama. E pelo bem do casamento, aguentou ter conhecimento das inúmeras amantes do marido. Marido aliás, que é (desde que me entendo por gente) ministro de eucaristia da igreja aqui perto de casa. O mesmo marido que à noite só a procurava sexualmente dizendo: “Mulher, abre as pernas que eu quero dar uma cusparada!”

Quando lembro de mulheres como a minha vizinha penso: “Como é bom ter nascido dos anos sessenta pra cá…”

Alguma dúvida de que é maravilhoso ter nascido depois das feministas brigarem para todas as mulheres terem direito a ter uma vida sexual plena?

A má notícia é que ainda brigamos por direitos sexuais e reprodutivos, mas vou falar disso em outro post. Hoje é dia para agradecer por não ter recebido a mesma educação afetiva e sexual vigente em meados do século XX.