A notícia do dia no twitter foi o caso em que o juiz decidiu que o esperma, após ejaculado, pertence à mulher. Não sabemos detalhes do caso, nem nada mais do que foi divulgado nesta nota. Vinícius k-max twittou dizendo que as feministas venceram. Será mesmo?

Na lógica de uma sociedade machista, o falo e, consequentemente, o esperma, são elementos que caracterizam a masculinidade e concedem ao homem o poder de ser superior às demais pessoas, agindo como dono delas. Sendo assim, o homem, ao optar por copular com uma mulher X (porque a lógica machista é marcada pela heterossexualidade para fins reprodutivos), a “presenteia” com a sua atenção e toda a sua masculinidade. É praticamente um favor que ele, do alto de sua onipotência, acredita fazer para a outra parte. Se o homem exercita sua masculinidade por meio de um relacionamento consentido ou um estupro, se irá gerar um feto, será engolido ou será deixado ao ar livre, não interessa a ele. O que importa é que ele fez a sua parte, sendo “generoso” o suficiente para distribuir milhares de espermatozoidinhos pelo mundo.

Ainda na lógica da sociedade machista, uma mulher é NADA sem um marido. Portanto, ela deve tratá-lo como um troféu, cuidando dele devotadamente. Caso ele resolva se separar, ela deve impedi-lo com todas as forças. E, se possível, deve aumentar seu vínculo com ele, nem que seja com uma gravidez, já que, segundo a tradição machista, procriar é a função do macho no mundo, mulheres são incompletas se não se tornam mães, e bebês salvam casamentos. Caso a separação seja realmente irreversível, ela deve demonstrar seu descontentamento atormentando-o furiosamente, afinal casamentos são para sempre e ela é, por direito, dona daquele troféu-homem (isso inclui brigar e perseguir a nova namorada dele também). Ele desgraçou a vida dela, já que destruiu sua imagem na sociedade, além dos sonhos do Príncipe Encantado, família perfeita, unida e feliz para sempre.

A situação é completamente machista, percebem? Um casal legalmente casado se relaciona sexualmente, ocorre uma gravidez, e o Estado garante os direitos dessa criança gerada durante o casamento, obrigando o pai – agora separado da mãe – a atuar como provedor da criança.

O caso chega a ser jocoso pelos termos técnicos e pela forma utilizada para se conseguir a fecundação. O resultado parece feminista porque quem ganhou é uma mulher – estamos acostumados a ver as mulheres apenas como perdedoras, em plano inferior. Mas este é um caso em que a mulher ganhou usando e se beneficiando das regras de uma sociedade machista.

Onde que entra o feminismo na história? Não entra, simplesmente. Se fosse uma história realmente feminista, o homem se responsabilizaria pelo seu esperma, não o “distribuindo” sem pensar em suas consequências, cuidando inclusive de evitar ser pai, se não o desejasse; a mulher teria autonomia e auto-estima suficientes para não se desesperar pelo fim de um relacionamento, e nem cogitaria forçar uma gravidez apenas para manter os laços com o ex-marido. O Estado não precisaria interferir, não haveria uma nota bizarra na internet, nem uma febre de piadas no twitter, nem este post, muito menos este blog.

Pra quem não entendeu ainda, eu resumo: as feministas não venceram. A lógica da sociedade machista continua em ação.