Quando era mais nova, minha mãe não me deixava nem sair de casa na época do carnaval, por acreditar que era uma época de promiscuidade e doenças, e que as mulheres da família dela não se submeteriam a isso. O discurso era o mesmo nas casas de todas as minhas amigas. Pra mim, isso foi sempre preconceito e uma forma de controlar a nossa vida e sexualidade, mas não havia como discutir com quem afirmava que o maior índice de nascimentos de bebês é nove meses depois do carnaval, pois não tínhamos argumentos para indicar o contrário.

Por isso, fiquei muito feliz de saber que as novas gerações não vão ter esse problema. Creio que não foi muito divulgado, mas achei interessante este resultado de pesquisa indicando que o carnaval não é a época do ano em que há aumento de gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis.

Pode parecer bobeira, mas esse tipo de pesquisa evidencia que o preconceito com o carnaval é tão grande que são atribuídos exageros a ele que não correspondem à realidade. Além do mais, indica que as campanhas para uso de preservativos ou métodos contraceptivos não deveriam estar concentradas na época do carnaval (como ocorre atualmente), mas distribuídas ao longo do ano. Deveria ser óbvio que a sexualidade não fica guardada numa caixinha para ser usada no carnaval, mas envolve toda a vida das pessoas, o tempo todo. Mas, pelo visto, ainda serão necessárias muitas outras pesquisas para mostrar que essa lógica não funciona e forçar uma mudança de mentalidade…

E não precisa me dizer que há locais e festas, no carnaval, em que há muita promiscuidade. Oras, isso acontece o ano todo, em diversos lugares. Não é porque Belo Horizonte não tem um carnaval intenso ou famoso que aqui não tem festas de todos os tipos possíveis. E não é porque o carnaval da Bahia é famoso pelas oportunidades de relacionamento que isso implica em que, no resto do ano, as pessoas não se relacionem sexualmente. O que se pode questionar é a intenção dos meios de comunicação de insistirem em divulgar apenas o carnaval como ápice da sensualidade, lançando mão do puritanismo no resto do ano.

Quanto à promiscuidade, cada um sabe o que é melhor pra si mesmo, e não sou eu que vou dizer como deve ser a vida afetiva ou sexual dos outros. Portanto, sugiro que façam o mesmo e me poupem desse moralismo.