Na semana passada, todos ficamos sabendo que a escritora Leticia Wierzchowski está processando Milton Ribeiro por causa de uma crítica escrita por ele, e desfavorável à obra dela. Poucos dias depois, Milton transcreveu e comentou a petição inicial do processo. A partir dela, fica mais fácil entender exatamente por quê Leticia se ofendeu a ponto de acionar o Judiciário.
Miton, em sua crítica, optou por ridicularizar Leticia Wierzchowski trocando o nome dela por Vierchoschoten. Alguém mais inocente e desavisado poderia achar que se trata de um trocadilho com Suzane Richthofen, mas qualquer pessoa que já tem mais de 10 anos e um mínimo de vivência sexual entende que se trata de uma referência vulgar ao órgão sexual feminino.
Como já disse antes, e não me canso de repetir, a crítica deve ser feita à obra, não ao autor/autora. Pretensas “piadas” com nomes do/a autor/a da obra não deveriam fazer parte de crítica séria, pois vão além do conteúdo da obra, tornando-se ataque pessoal. E, quando o conteúdo da crítica é sexista, há sim algo mais que pode embasar uma condenação judicial.
Eu não ridicularizaria nem diminuiria a importância do assunto, muito menos sairia gritando censura! a plenos pulmões (até porque censura não houve – não foi feito pedido de retirada, e todos os textos continuam disponíveis, sem alterações.) Se a crítica foi além da obra, atingindo sua autora, é direito dela se sentir ofendida e requerer ao Judiciário indenização por danos morais, e, se for o caso, também processar por crimes contra a honra.
A questão que me preocupa é o descaso com as mulheres. Se o texto envolvesse etnia ou orientação sexual, muito provavelmente as pessoas a repudiariam imediatamente, considerando-a ofensiva. Porém, críticas que descambam para trocadilhos sexistas, críticas ao nome, à aparência (como nos comentários deste post) ou “piadinhas” com violação (como as intercaladas à petição inicial) parecem ser consideradas aceitáveis, mesmo por quem jura que é a favor da igualdade entre os sexos. Se o for, realmente, deveria se indignar com um tratamento tão desigual.
Atualização em 13/06/09: uma questão recorrente nos comentários é que Leticia não deveria processar Milton. Repito que processar, ou não, é uma decisão e um direito dela. Não me agrada nem um pouco essa pressão para desqualificar o processo, pois isso, sim, parece uma tentativa de calar uma pessoa que se sentiu ofendida. Considero isso uma intromissão indevida e bastante desrespeitosa à vontade de Leticia: primeiro, por querer ditar como uma pessoa ofendida por uma crítica pessoal deve reagir; segundo, porque ela tem todo o direito de ter esse caso analisado pelo Judiciário.
Dos posts que li sobre o caso (não li muitos ainda, é fim de semestre, com sobrecarga de trabalho), gostei muito das observações da juliana m. e, com as ressalvas do parágrafo acima, do post da Marjorie Rodrigues.
[…] Acabei de ver que Cynthia também escreveu sobre o assunto. Faço minhas as palavras dela, […]
ufa, finalmente um ótimo texto sobre isso. como de costume, você diz o que precisava ser dito, e da melhor maneira possível!
:*
Olha, talvez por ter nascido em 1980 e crescido já na transição democrática, tenho outra idéia sobre censura.
Pra mim, processar alguém qdo tenha me sentido ofendida ou até apagar um comentário ofensivo no meu blog jamais será censura.
O direito de expressão, como sabemos, não comporta opiniões ofensivas e ponto.
Vejo motivos para que a Leticia tenha se ofendido com a crítica, além da alusão a genital feminina, temos q ver que ela cresceu na região sul. E pelo que já li ainda há preconceito contra poloneses por lá.
Suponho que essa crítica possa talvez ter despertado nela algum sentimento de menosprezo por isso também.
Oi Cynthia, tudo bem? Te digo que isso nao me espanta nao. Convivemos todos os dias com piadinhas e trocadilhos preconceituosos contra mulheres e sao raras as vezes que alguem se levanta para contestar esse tipo de discriminaçao. Sinceramente, eu nem conheço essa Leticia, mas um critico serio nao faria trocadilho com o nome de nenhum autor, ele discutiria a obra. Bem, o mundo sera um dia um lugar onde seremos iguais, homens e mulheres? Um grande abraço para voce, tenho uma profunda admiraçao pelo teu blog.
Oi, acho que é a primeira vez que venho aqui. Já comentei lá na Marjorie sobre o mesmo assunto. Gostei muito de vcs terem falado sobre isso pq me incomodou muito, muito mesmo esse post. Eu achei ele todo agressivo, sem noção. E me incomodou ainda mais que esse cara fosse “apoiado”. Como nem sabia quem ele era, só agora, por causa deste evento. Sinceramente? Passo.
Quando fiquei sabendo do caso tomei as dores do tal do Milton. Não sabia que ele tinha feito essa piada com o nome da autora. Mas agora estou revendo meus conceitos.
O mais chato é ver que o cara põe no blog dele uma série de links para textos que enaltecem a sensibilidade feminina, as mulheres escritoras e sei lá mais o que. Como se isso o redimisse! Se ele disser que pegou pesado mesmo e que se arrependeu eu até aceito. Mas esse papinho de “olha como eu adoro as mulheres” pra justificar a ofensa não rola não. Se errou, que assuma seu erro ora bolas!
Então, vou comentar o comentário que vc fez no GReader. Não sei pq, mas eu não consigo comentar no seu! =-(
Sim, vc tem toda a razão. Se ela se sentiu ofendida, é milhões de vezes melhor processar do que fazer o que tio Paulo Coelho fez comigo.
Eu só acho, cá com meus botões, que o processo não tem muita “sustância”. Fora o “vershoshoten”, eu acho que as outras acusações que ela faz são meio exageradas. Tipo ficar ofendida porque ele disse que a obra é ruim e porque ele corrigiu o espanhol dela. Se tava errado, tava errado, ué. Paciência. Não acho que seja ofensivo ironizar o erro. Crítica literária tem dessas.
Só que toda e qualquer crítica perde todo o peso e a validade, quando o autor usa trocadilhos sem graça para se referir à pessoa. É engraçado que o título da resenha seja “não é nada pessoal”. Porque, quando ele faz piada com o sobrenome e o gênero dela, torna-se pessoal sim.
Bjo!
Fico feliz que vc e a Marjorie tenham escrito sobre isso. Eu fiquei muito tentada a escrever, mas acho que já entro em polêmicas demais sem mencionar um autor especificamente. Eu nem sabia quem é esse Milton (ah, minto: fiquei sabendo quando fui convidada a entrar no Pensador Selvagem). E nunca li nada da Leticia. Vi episódios de A Casa das Sete Mulheres na Globo, na época, e gostei bastante. Então já me incomoda que, por alguém fazer sucesso, como é o caso da Leticia, apareça um monte de gente dizendo como ela é péssima, não sabe escrever, não sabe falar espanhol, etc etc. Porque tem muito de inveja nisso, não vamos negar. O pior é que desconfio que, se Leticia não fosse mulher, o pessoal pegaria bem menos no pé dela. Aí temos uma mulher fora do eixo Rio-SP que escreveu um bestseller e tem uma coluna num jornal. Parece que ela está pisando em terreno proibido, sabe? Numa área reservada aos homens. E o furor em defender o privilégio masculino fica muito claro nesse trocadilho com o nome da autora. E aí o carinha, indignado, vem dizer “Olha como eu já escrevi posts louvando as mulheres!” (cheios de lugares comuns). É igual ao racista que diz “Mas eu tenho um amigo negro!”.
Ainda assim, acho que a Leticia errou feio ao processá-lo. Isso pra mim cheira à censura, sim, e sou contra a censura. Acho que todo mundo deve ter o direito de fazer trocadilhos machistas com o nome de autoras. Mas não tenho nenhum apreço por carinhas que fazem esses trocadilhos. E acho incrível que nenhum dos homens gritando “Censura! Pobre Milton!” aponte que o post dele foi machista.
Ah Cynthia, muito lúcido, muito equilibrado o texto. Acho que vc conseguiu mostrar exatamente qual é o problema e sua dimensão, sem minimizar ou radicalizar sua importância. Acho que o apelido que o Milton criou não desqualifica a crítica literária/linguística que ele fez, não justifica o processo por danos morais, mas não é um apelido qualquer e merece ser pontuado. Sem ódio, sem desgaste, com a elegância que vc esbanja.
Parabéns, e um abraço.
Todo aquele papo de sábado, este texto, por tudo… sempre sinto um orgulho imenso de ti.
Super Cynthia, você disse aquilo que muitas de nos estamos pensando e dizendo, no meu caso o meu comentario parece ter sido apagado do blog do processado, como eu nao tenho nenhuma simpatia pelo processado (e por varios de seus amigos) minha visao parece parcial, mas no seu caso esta acima de qualquer suspeita. Beijo grande e adorei te ver mesmo tendo sido rapidinho.
É, Cynthia, você tem toda razão. E sinto vergonha de mim, pois quando fiquei sabendo disso, fiquei a favor do Milton Ribeiro, pois achei o processo todo muito idiota. Concordo com a Lola, achei que ela errou em processá-lo, mas também não relacionei a brincadeira idiota dele com misoginia. Pensei justo isso: brincadeira idiota, ou como você colocou na tag, piada sem graça.
Sabe o que me preocupa? A possibilidade desse processo cair na mão de um(a) juiz(a) machista e sexista, que vai achar a piadinha feita com o sobrenome da autora muito engraçada, dizer que a autora é chiliquenta e julgar o pedido improcedente. Isso me preocupa muito, já que a idiotice está presente em todas as categorias profissionais, de escritores a magistrados.
Gostaria de deixar, enquanto homem (ahn?) e sabedor desse casinho, um pitaco. O único problema do texto publicado pelo Milton foi o trocadilho sem graça e politicamente incorreto. O resto não. Entrar com uma ação por se sentir insultada por uma expressão infeliz é um tanto pesado. Até parece que as mulheres não fazem piadinhas infames sobre características masculinas. Se ele foi babaca ou não, discute-se. A ação é infeliz na medida em que a Sra. Leticia não reconhece o direito de expressão humorística, mesmo de baixa extração que seja, acerca de qualquer bobagem ou “coisa séria”. Eu, por exemplo, costumo me referir sempre a um ex-presidente como Efeagagá. Nomeações equivalentes podem ser encontradas diariamente na imprensa brasileira, sobre várias figuras históricas, vivas ou mortas. O repúdio vale, o protesto, bem como vários artigos críticos contra o texto do Milton Ribeiro. O direito à ação é livre, mas um senso de juízo recomenda outros caminhos, principalmente porque se refere a um blog e, assim, 99,9999% das pessoas nada saberão sobre isso. Ah, devemos combater os preconceitos em todas as trincheiras! Sim, mas em medidas adequadas a cada uma delas. Ou se dispara um canhão contra soldadinhos de chumbo?
concordo com o marcos nunes. até pq, homem ser chamado de machista é insulto, mulher ser chamada de feminista é elogio.
:>)
comentei na marjorie que eu, como leitor, não sendo ingênuo, reparei a alusão, mas liguei à alusão imediatamente ao nome do livro, “casa das sete mulheres”, e não como, ér, depreciativo da qualidade de escritora da mesma.
no fim, e apesar de tudo, a conclusão que tiro é que a dita é uma chata de galocha.
;>)
Cynthia.
Apesar de leitor do teu blog, ignorava que tinhas escrito a respeito do grande caso… Soube há pouco, através do Marcos, que fez um comentário acima.
Eu tenho absoluta certeza de que estou sendo colocado numa posição falsa. Quando coloquei links no post da Marjorie, minha intenção era a de que ela:
1. soubesse que sou filho da mulher que foi, provavelmente, a primeira dentista mulher do RS, formada em 1947. Não é um ohhhh ou ahhhh de Dia Internacional da Mulher. É biografia.
2. Noutro, faço um resumo da vida de Clara Schumann, mulher de Robert, que foi tão ou mais talentosa que o marido, mas que tinha de ficar submetida a ele. Também não é uma referência vazia.
3. Num terceiro, escrevo sobre como as mulheres escrevem. Não há deslumbramento oco, cito passagens e livros. Leio livros escritos por mulheres (e é incrível que eu tenha escrito frase tão óbvia).
Porém, se minha condenação é pré-links, de que adianta possuir uma biografia há 51 anos? É claro que cometi um erro ao fazer aquela brincadeira; é claro que, se LW houvesse pedido, retiraria o post.
O que me assusta nisso tudo é que repentinamente sou colocado onde nunca estive: do lado contrário ao do HUMANISMO e do MULTICULTURALISMO. Para piorar, virei machista.
Agora, OK, digamos que eu seja preconceituoso, horrivelmente preconceituoso. Você acha que o combate ao preconceito se faz através de julgamentos ou de diálogos como este que estamos travando? O país se tornou menos racista em função de uma lei ou da evolução de uma sociedade que debateu o problema? E como podemos debater se as ocorrências são passíveis de proibição por lei?
Eu mesmo não sei responder estas perguntas, apesar de ter a impressão de que seria beneficiado pelas respostas.
Antes de finalizar, aviso que estarei desconectado até a próxima segunda-feira e não poderei acompanhar as eventuais réplicas.
Abraço.
P.S.- Só há uma coisa da qual não abro mão de dizer: LW é péssima escritora.
Volto apenas para acrescentar mais dois fatos que creio serem significativos:
Se fosse machista ou mesmo sexista, dificilmente nomearia uma advogadA, a mesma que me representou há três anos quando pedi a guarda de minha filhA de, na época, 11 anos, a pedido da últimA.
Quando se coloca o destino de uma filha nas mãos de uma mulher, o que isto significa? Bem, na verdade só pensei nisso agora, mas o que significaria?
Adendo: minha filha Bárbara mora comigo há dois anos. Dizer que somos felizes é pouco.
Curioso, tem uma pessoa aí em cima que chega a dizer que nunca leu nada da Leticia, mas “dizer que ela é má escritora é inveja” (fico imaginado a inveja do Milton em relação à obra dela…). Se as pessoas que comentam aqui se derem o trabalho de ler o caso no blog do Milton, verão que quase todos os que o apoiam acham que ele errou mexendo com o nome, e o próprio reconheceu isso desde o princípio. Será que a escritora não mostraria maturidade aceitando o retratamento dele com relação ao nome, mas também reconhecendo como legítima (sem necessariamente concordar, claro) a crítica que ele fez à sua literatura?
Buscamos a igualdade prescindindo da verdade, caras amigas?
Milton, todo mundo já errou. Todo mundo já cometeu grandes deslizes. E ninguém gosta quando esses deslizes são apontados. Nossa atitude é ficar com raiva e atirar pra todos os lados. Até agora não ficou nada claro que vc se arrepende do trocadilho com o nome da Leticia. Vc pediu desculpas no seu blog? Acho que essa seria uma atitude boa. Pedir desculpas publicamente a Leticia, pelo que vc acha que está errado no seu post, mas não de forma arrogante. Não dizendo “Minha mãe foi uma pioneira, então é óbvio que não posso ser machista”. Porque isso é besteira, Milton. Todo mundo pode ser (e é, ou foi) machista alguma vez. Assuma seu erro. Peça desculpas. E peça pra ela deixar o processo pra lá. Vc e seus amigos “não-vejo-nada-de-mais-no-trocadilho/feminista-não-tem-senso-de-humor-mesmo” podiam aproveitar e aprender alguma coisa com isso. Mas seria preciso alguma humildade. Pronto, já dei o meu pitaco. Se eu quisesse me meter teria escrito um post no meu blog.
Lola, teu comentário parece muito sensato (inclusive fui conhecer teu blog, é legal). É evidente que o Milton, um brasileiro de seus 50 anos, tem o machismo como parte de sua formação, como o racismo e outros monstros. E isso se manifesta em piadas bobas como essa do nome, cujo machismo e pobreza não fazem jus à inteligência do autor. De toda forma, entre machismo de formação e misoginia vai uma distância. Mas eu apostaria que a escritora não aceita as desculpas pelo nome, pois creio (não tenho como provar) que o problema dela é a crítica à obra. Não sei se o Milton disse as palavras “desculpa, Leticia”, mas várias de suas manifestações reconhecem a impropriedade do que disse sobre o nome. Está aí algo bom de pagar pra ver: Milton, pede desculpas explicitamente por ter ofendido a escritora e vamos ver se a crítica literária é tolerada.
Ele nao pediu desculpa.
E também nao é a primeira vez :
http://depoisdaqueda.blogspot.com/2009/06/21-false-false-false.html
Prezada Cynthia,
Como se sabe – sou o autor do texto “A Escolha de Leticia” – considero o processo exagerado, sobretudo porque expõe ainda mais a autora (basta medir isso nas buscas via Google). Graduei-me em Sociologia e Política e existe em cursos como este uma interessante discussão sobre o feminismo, o que inclui núcleos de ação envolvendo alunos, professores etc.
Aprendi com minhas amigas feministas – e com as próprias leituras e pesquisas inerentes ao curso – que a opressão às mulheres se apresenta em formas nem sempre ostensivas, embora considere que, neste caso, o trocadilho de Milton Ribeiro foi bem explícito e profundamente infeliz. Por considerar sua contribuição essencial ao presente debate, indiquei seu post no meu blog.
Creio que todos temos muito o que aprender com o episódio. Do momento em que tomei ciência do caso até o presente momento, aprendi bastante com as opiniões e argumentos emitidos. No mais, a contenda LW x MR me proporcionou conhecer diversos blogs bacanas (como este, por exemplo). Parabéns!
Saudações,
Biajoni, feminismo não é o ocntrário de machismo. }informe-se. Vc tb comentou no meu blog e eu até não aceitei o comentário por conta desse tipo de idéia. Acho que não dá para discutir sem base.
Milton, eu acho bcana que vc esteja disposto a ouvir e esteja levando tudo isso numa boa. Falei isso lá no meu blog tb. Mas NENHUM dos textos que vc linkou é prova de não-machismo. Porque o machismo está presente em toda a nossa cultura. Nós vivemos num patriarcado. Então sua mãe pode ser quem for, sua advogada pode ser mulher, vc pode ter filhas, pode escrever o que quiser sobre literatura feita por mulheres. Mas NADA DISSO te impede de deslizar e cometer atos que são machistas.
O que eu, cynthia, Lola e todas as outras meninas estamos apontando é isso. Que vc deslizou e que foi, sim, machista. Porque é a cultura em que vc vive. Cultura esta que é misógina e deve ser combatida. Machismo não é só contratar um advogadO em vez de advogadA. Machismo não é só cuspir no chão. Machismo é tudo aquilo que, consciente ou inconscientemente, acaba por colocar a mulher numa posição inferior.
marcos nunes, se mulheres fazem “piadas” com características femininas, eu não sei. Eu não faço, e nem minhas amigas. Mas nada impede que uma pessoa diretamente ofendida se manifeste e até processe o/a autor/a da “piada”, especialmente se tal “piada” aparecer em um trabalho que se pretende crítico. E, já que você falou em combater preconceitos, seria interessante entender que o que você chama de “liberdade de expressão humorística” não tem nada de engraçado para uma parcela significativa de pessoas, e pode encobrir preconceitos, como está explicado no meu post.
Marjorie, acho melhor deixar pro Judiciário decidir as questões relacionadas com o processo, até porque as informações que tivemos até agora são bastante parciais. E reitero que prefiro mil vezes um processo judicial a pressões sociais para prejudicar a pessoa que desagradou.
Biajoni, estou chocada com seu comentário. Desde quando mulher ser chamada de feminista é elogio? Muito pelo contrário, somos sempre tratadas com péssimos adjetivos. Vi no seu blog que você se referiu a Leticia Wierzchowski como mocréia, e fico me perguntando o quanto mesmo você entendeu dessa discussão toda.
Milton, eu não estou discutindo o blog da Marjorie. Fiz questão de me ater apenas ao que você divulgou, já que é você o processado, e foi quem trouxe toda essa discussão à blogosfera. Concordo com quem comentou antes, afirmando que, ao elencar as mulheres em sua vida, você está desviando da questão e agindo da mesma forma que racistas que “até têm amigos negros”.
A questão aqui é bem mais delicada: nossa sociedade é machista, somos todos machistas por default. Optar por pela conscientização e mudança de mentalidade e de postura para não ser preconceituoso não é mérito, mas o mínimo que se espera de pessoas que defendem humanismo e multiculturalismo. Claro que estamos todos sujeitos a deslizes, mas não se trata de uma balança na qual pesamos erros e acertos, como se os acertos minimizassem ou apagassem os erros.
E, já que você perguntou: quanto mais tempo passa, mais tenho certeza que o país se tornou menos racista por causa da lei, e não por causa dos debates sobre racismo (por incrível que pareça, nos debates ainda há gente que afirma não existir racismo no Brasil). A ameaça de processo judicial é um motor de mudanças muito mais forte, pois obriga as pessoas a pensarem duas vezes antes de pronunciar algo que pode ser interpretado como ofensa.
Roberto, não entendi o que você quer dizer com “Buscamos a igualdade prescindindo da verdade, caras amigas?”
Quem está prescindindo da verdade?
Daniel, obrigada pelo elogio. Mas acho importante observar que neste caso quem está expondo a Leticia não é ela mesma, mas o processado.
Dani, todos ficamos a favor do Milton quando, no twitter, apenas foi divulgado que ele estava sofrendo um processo porque Leticia Wierzchowski não gostou da crítica que ele fez. Só depois é que fomos entender toda a história.
Ana, alterei o link que você deixou, pois ele estava apontando pro bloglines. Era esse mesmo o post da Juliana que você linkou?
É verdade, Cynthia.
A exposição é um efeito dominó na web. Nos comentários, você também mencionou o fato de termos, todo nós comentadores, apenas um acesso parcial ao processo, obviamente filtrado pelo relato do processado. Tudo isso deve levar em conta.
De todo modo, o debate nos faz crescer. O assunto não é trivial e, como sociólogo, torço para que os temas centrais e mais importantes (feminismo, misoginia culturalmente introjetada, liberdades individuais etc.) não sejam perdidas de visto. É por isso que valorizo profundamente a lucidez dos seus escritos e torço para que, se possível, Leticia Wierzchowski se manifeste também.
Saudações!
Concordei com vc, Cynthia. Não posso eu decidir se cabe processo ou não. Retiro então dos meus comentários o “não justifica o processo”.
Como é bom mudar de ideia com um argumento superior!
Obrigada por isso.
beijo
Pois é, faço minhas as palavras Aline. Se eu, no mesmo lugar da Leticia, processaria ou não, aí é cá comigo. Quando a gente fica dizendo “ah, mas eu particularmente acho exagerado…”, jogando achismo, acaba mesmo por reiterar a idéia de não-validade do processo, o que não é verdade. Bjo!
“marcos nunes, se mulheres fazem “piadas” com características MASCULINAS, eu não sei. Eu não faço, e nem minhas amigas”
Ok, tudo bonito; afinal, entramos no reino do faz-de-conta.
Quanto aos processos por dano moral com origem em brincadeiras estúpidas fundadas em preconceitos ralos, bem… é uma boa fonte de recursos para advogados, né? Se isso vai mudar a cultura machista, ou feminista, ou racista, ou alimentar, sinceramente, não vejo a mínima chance. Lembro-me, mas uma vez, de Lenny Bruce, que repetiu para um espectador no teatro dezenas de vezes a expressão nigger: a intenção era esvaziá-la, como a Gabriela da Daspu, que prefere a expressão puta a trabalhadora do sexo. Mas acho que vocês preferem o eufemismo: é hipócrita, não fere as susceptibilidades mas mantém todos os preconceitos em vigor.
Acabo de entrar para o movimento “Ui, Cansei!”
marcos nunes, eu não estou aqui para ironias, nem para ser acusada de faz-de-conta. Não acho graça, não faço e nem incentivo “piadas” sexistas, pois considero que são extremamente maléficas para o convívio social, criando uma guerra de poderes entre os sexos completamente desnecessária. Se você não quer refletir sobre a situação, e prefere manter o que você considera direito de fazer brincadeiras estúpidas, desprezando a opinião de quem se sentiu ofendido/a e se enfurecendo porque a pessoa não gostou da “brincadeira”, só tenho a lamentar.
assim é risadinha, um sorriso:
:>)
assim é piscadinha, tipo, “mais ou menos isso”:
;>)
fiz uma perguntinha, pra jogar pra platéia. depois disse o que eu tinha visto no post, achando que não era pra tanto. mas ei, talvez eu não seja tão sensível.
agora… não posso chamar alguém de mocréia? até o renato aragão pode.
mundo chato, hein?
:>/
(essa é de indignação)
Ah, que legal! Agora temos um ping-pong entre machos. Um chama uma escritora de mocreia e acha que o mundo (das feministas) é sem graça por não poder chamar alguém assim (sendo que o que estava sendo discutido era a obra da Leticia, não sua aparência física. Pense: se fosse um escritor homem, ele seria chamado de mocreio? Não, né? Não existe nem expressão pra isso). Outro vem aqui citar Lenny Bruce pra dizer que, no fundo, quando usam expressões como mocreia, vadia, piranha, etc, a intenção é esvaziá-las da sua conotação negativa. Parabéns, meninos. Vcs estão fazendo um ótimo trabalho. Keep up the good work.
[…] observação ao trocadilho com “Wierzchowski” trouxe reflexões sobre sexismo, ampliando o debate sobre o processo da autora a Milton Ribeiro que, tirando a brincadeira, […]
Cynthia, você, a Lola e outras/os já mataram a pau. Sinceramente, gosto de ler o blog do Milton Ribeiro. Excelente escrita, bom humor, ótimos causos… Lamento muito pela “piada” com o nome da escritora, e me lembro de ter ficado entristecida e decepcionada com isso.
Acho que pela bagagem do blog o processado vai impugnar tranquilamente algumas acusações exageradas, mas em relação à “piada”… aí a razão foi pro espaço e a crítica deixou de ser crítica e tornou-se vil.
Sua atualização é importantíssima. Ridicularizar a petição do advogado, ok, mas ela tem todo o direito de pedir alguma reparação na Justiça, se se sentiu ofendida. Se deu à causa um valor tão baixo, problema da autora. Deduzo que ela almeje a condenação, não o dinheiro.
Quando soube do “processo”, em meu preconceito já achei que a autora não sabia o que tava fazendo, não sabia lidar com crítica negativa e tal.
Mas depois da leitura do post do Milton, onde no título diz que “não é nada pessoal” e no meio do texto faz uma brincadeira infeliz e de mau gosto com o sobrenome da autora, fechei a janela e conclui: Tá certa ela!
Tenho para mim que ele subestimava o alcance de seu blog. Agora sabe da influência que adquiriu e tenho certeza, vai tomar mais cuidado com as palavras daqui pra frente.
Cynthia, as pessoas estão prescindindo da verdade porque os comentários falam da infeliz piada machista de Milton Ribeiro como se o processo da Letícia se resumisse a isso. Também se acusa o autor de ser antipolonês (??) várias outras coisas. Acho que com isso se aceita a priori uma pressuposição sobre as motivações do processo que ninguém pode saber, então se prescinde da verdade sobre uma questão específica para promover uma causa geral (justa, diga-se de passagem). Se tirarmos a piada da ação, o processo passa a ter a qualidade da literatura dela.
Repito o desafio: se o MR pedisse desculpas pela piada machista e boba, a LW aceitaria a crítica à sua obra (aceitar não é concordar, somente deixar de processar o autor)? Suspeito que não. Não temos como saber, pois não posso pedir desculpas em nome do MR, assim como nenhuma das comentadoras aqui tem como conhecer as motivações da LW.
Roberto, o tema deste blog (feminismo e direitos humanos), explica o por quê da discussão se desenvolver aqui em torno da “piada”. Ninguém disse que o processo se resume a isso. A petição tá lá pra todo mundo ver no blog do Milton Ribeiro e carrega nas acusações sim. O pessoal o apóia com razão, excetuando-se, claro, os comentários masculinos xingando a escritora ou apenas dizendo “ela é feia”. Receio que haveria uns comentários do tipo “até que ela dá um bom caldo” se ela tivesse o rosto de… sei lá, como o da Letícia (com acento) Sabatella?
Costumo visitar o “blog do Milton Ribeiro” e não sabia desse outro lado seu. Isto dito pq tenho-o como um blogueiro (e pessoa) civilizados. Tinha uma idéia diferente dele. Por outro lado, não sei se ele tem algum entrevero com a escritora ofendida. E ainda que tivesse foi bem baixo o trocadilho (ou sei lá que nome se dá) usado por ele. Ele desceu lamentavelmente o nível a que estou acostumado a ver no seu “diário”. Péssimo mau gosto o “sobrenome” arranjado para a Letícia. Passarei a olhar o “blog do Milton Ribeiro” com um senso mais crítico, doravante, pois abomino esse tipo de deboche, mormente quando de sabença pública. É condenável ainda que haja alguma rixa com o(a) ofendido(a)
Alguém escreveu que o “trocadilho” usado por Milton Ribeiro no lugar do sobrenome da escritora tem a ver com o preconceito existente no Rio Grande contra os descendentes de poloneses. Será? Se for isso, a coisa é mais séria. É crime racial! Prá mim, foi, no mínimo, um surto de comportamento machista do blogueiro. Ele tem que responder na Jusiça, sim, pois isso não tem nada a ver com crítica literária!
Tinha esquecido desta discussão. Volto aqui apenas para dizer que, poucos meses depois, ainda em 2009, entrei em contato com Letícia através de minha advogada e o processo foi extinguido antes da primeira audiência. Não lembro bem se LW pediu ou eu ofereci a retirada dos posts sobre o caso. Todos foram deletados. Reafirmo que o caso nada teve a ver com posições contra o feminismo ou contra os descendentes de poloneses. Foi um ataque pessoal muito infeliz que assumo e do qual me envergonho.