Na semana passada, todos ficamos sabendo que a escritora Leticia Wierzchowski está processando Milton Ribeiro por causa de uma crítica escrita por ele, e desfavorável à obra dela. Poucos dias depois, Milton transcreveu e comentou a petição inicial do processo. A partir dela, fica mais fácil entender exatamente por quê Leticia se ofendeu a ponto de acionar o Judiciário.

Miton, em sua crítica, optou por ridicularizar Leticia Wierzchowski trocando o nome dela por Vierchoschoten. Alguém mais inocente e desavisado poderia achar que se trata de um trocadilho com Suzane Richthofen, mas qualquer pessoa que já tem mais de 10 anos e um mínimo de vivência sexual entende que se trata de uma referência vulgar ao órgão sexual feminino.

Como já disse antes, e não me canso de repetir, a crítica deve ser feita à obra, não ao autor/autora. Pretensas “piadas” com nomes do/a autor/a da obra não deveriam fazer parte de crítica séria, pois vão além do conteúdo da obra, tornando-se ataque pessoal. E, quando o conteúdo da crítica é sexista, há sim algo mais que pode embasar uma condenação judicial.

Eu não ridicularizaria nem diminuiria a importância do assunto, muito menos sairia gritando censura! a plenos pulmões (até porque censura não houve – não foi feito pedido de retirada, e todos os textos continuam disponíveis, sem alterações.) Se a crítica foi além da obra, atingindo sua autora, é direito dela se sentir ofendida e requerer ao Judiciário indenização por danos morais, e, se for o caso, também processar por crimes contra a honra.

A questão que me preocupa é o descaso com as mulheres. Se o texto envolvesse etnia ou orientação sexual, muito provavelmente as pessoas a repudiariam imediatamente, considerando-a ofensiva. Porém, críticas que descambam para trocadilhos sexistas, críticas ao nome, à aparência (como nos comentários deste post) ou “piadinhas” com violação (como as intercaladas à petição inicial) parecem ser consideradas aceitáveis, mesmo por quem jura que é a favor da igualdade entre os sexos. Se o for, realmente, deveria se indignar com um tratamento tão desigual.

Atualização em 13/06/09: uma questão recorrente nos comentários é que Leticia não deveria processar Milton. Repito que processar, ou não, é uma decisão e um direito dela. Não me agrada nem um pouco essa pressão para desqualificar o processo, pois isso, sim, parece uma tentativa de calar uma pessoa que se sentiu ofendida. Considero isso uma intromissão indevida e bastante desrespeitosa à vontade de Leticia: primeiro, por querer ditar como uma pessoa ofendida por uma crítica pessoal deve reagir; segundo, porque ela tem todo o direito de ter esse caso analisado pelo Judiciário.

Dos posts que li sobre o caso (não li muitos ainda, é fim de semestre, com sobrecarga de trabalho), gostei muito das observações da juliana m. e, com as ressalvas do parágrafo acima, do post da Marjorie Rodrigues.