Graças a um aviso da Srta. Bia no twitter, ficamos sabendo que a editora Nova Fronteira acaba de relançar O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir. Desta vez, em volume único.

Hazel Rowley descreve o impacto do lançamento de O Segundo Sexo:

O primeiro volume de O Segundo Sexo saiu em junho de 1949. A reputação escandalosa de Beauvoir estava selada. Até o título do livro chocou as pessoas. Ao falar abertamente sobre o corpo feminino e a sexualidade feminina, Beauvoir quebara tabus importantes. Estava sendo considerada ainda mais chocante que escritoras que se vestiam de homem, suas precursoras George Sand e Colette.

Beauvoir foi severamente atacada. “Insatisfeita, fria, priápica, ninfomaníaca, lésbica, a mulher que fez mais de cem abortos, eu era tudo”, diz ela, “até mãe descasada”. Ela recebeu centenas de cartas. As pessoas lhe diziam que o problema dela é que não acreditava em Deus. Algumas se ofereciam para curar sua frigidez. Outras ofereciam, nos termos mais grosseiros possíveis, saciar seus apetites labiais. O Vaticano pôs o livro no índex. O escritor católico conservador François Mauriac disse a um membro do conselho editorial da Les Temps Modernes: “A vagina de sua empregadora não tem segredos pra mim.” Até Camus achou o livro grotesco. (“Camus (…) um homem mediterrâneo, cultivando o orgulho espanhol (…) acusou-me de fazer o homem francês parecer ridículo.”) O fato de Beauvoir ter discutido o aborto foi particularmente chocante. Como ela e Sartre haviam ambos escrito sobre o aborto em sua ficção, as pessoas já chegavam na redação da Les Temps Modernes pedindo endereços. A secretária colocara um cartaz: FAZEMOS NO LOCAL, PESSOALMENTE.

Algren chegou no auge disso tudo. Beauvoir e Sartre quase já não iam mais a cafés; as pessoas os atormentavam. Mas com Algren lá, Beauvoir saía muito. Quando os dois iam a um lugar público, as pessoas apontavam para ela e riam.

ROWLEY, Hazel. Tête-à-Tête. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006. p.237-238

Sem dúvida, o mundo de junho de 2009 é muito diferente do mundo de junho de 1949, quando O Segundo Sexo foi lançado em Paris. E parte dessas mudanças se deve a este livro. Portanto, trata-se de leitura recomendadíssima.

Poderiam ter feito uma edição mais caprichada para comemorar os 60 anos do livro, mas, tendo em vista a quantidade de livros feministas esgotados e não reeditados, temos de nos dar por felizes por ter o relançamento. Gostei da idéia de volume único, pois evita o grande problema das edições anteriores: conseguir comprar um volume, e em seguida descobrir que o outro estava esgotado…

Comprei o meu exemplar na Fnac, com 20% de desconto e frete grátis. Sei que tem na Livraria Cultura também. Está difícilimo de encontrar em outras livrarias e lojas online. Pra piorar, o site da editora não está atualizado, e os sistemas de busca estão bastante falhos. É uma pena que um livro desse porte receba tratamente tão precário.