No Formspring a Aglaia Madora me perguntou o que eu acho de mulheres que optam por parar de menstruar. A Tina questionou a minha resposta, e eu ia explicar lá, mas acabou que saiu um post ao invés de uma resposta simples. Aproveitando que esta é a semana da Segunda Vermelha, que incentiva as mulheres a celebrarem a menstruação, achei melhor publicar direto aqui no blog.

Primeiro, quero deixar claro que, quando eu digo que acho triste as mulheres quererem parar de menstruar, não estou falando de cólica e fluxo excessivos, TPM e dores que incapacitam e necessitam intervenção médica, nem estou levando a questão para casos pessoais.

Estou falando é de meninas e mulheres que são ensinadas a se odiar desde a infância, a associar menstruação a fezes, a ter nojo e vergonha de si mesmas, a não conhecer ou dar valor aos próprios ciclos corporais. Elas dependem de avaliações de terceiros sobre o próprio corpo, e não desenvolvem o auto-conhecimento e a autonomia. Antes mesmo de elas se conhecerem já estão sendo tratadas como “erradas” e medicadas para controlar os hormônios “revoltados” e disfarçar o sangue “sujo” e “nojento”.

A maioria das meninas e mulheres não recebe informação suficiente, sem preconceitos e tabus, sobre seu corpo e sexualidade. São poucas as que têm várias opções, podendo escolher a mais adequada para sua situação, a partir do conhecimento de seu corpo; a maioria apenas acata as ordens médicas sem questionar, até porque em sua maioria são jovens, sem formação adequada e sem auto-estima ou habilidade suficiente para desconfiar ou questionar autoridades.

E, devemos lembrar, nem sempre profissionais da medicina são pessoas sérias, interessadas na saúde das pacientes; são fruto de sua época, repetem discursos preconceituosos (inclusive científicos) e também podem ter interesses financeiros nem sempre muito claros. Ao invés de informarem sobre as possibilidades para cada caso, e incentivarem as pacientes a escolherem por si mesmas o que acharem mais adequado para o próprio corpo, a maioria opta por impor medicação ou intervenções que nem sempre são necessárias. É por isso que muitas mulheres são convencidas a usarem contraceptivos hormonais desde a primeira menstruação, outras não são informadas sobre efeitos colaterais de contraceptivos hormonais e nem aprendem sobre métodos e técnicas (muitas delas não medicamentosas) para lidar com TPM e cólicas.

Com um quadro desses, acho que é para ficar muito triste com a situação e lamentar que, por causa de tanto preconceito contra mulheres e menstruação, a maioria das mulheres não possa sequer aprender a conviver com seu corpo, compreendendo-o ao invés de odiá-lo e negá-lo. E eu lamento que adolescentes estejam aprendendo a odiar a si mesmas, a partir da menstruação, fazendo de tudo para não passarem por ela, nem conhecerem os próprios ciclos.

Pra resumir: não é uma questão de simplificar sobre ser natural, mas de questionar todo o preconceito e misoginia que está por trás da discussão sobre menstruar ou não. Menstruar faz parte da vida feminina e não deveria ser tratado como algo ruim por si só. E, se há uma situação em que menstruar é doloroso e a melhor alternativa escolhida pela mulher é não menstruar, que não menstrue, pois há razões sérias para isso. Mas temos de tomar cuidado para não considerar esses casos isolados como regra (sem trocadilho), acabarmos por ensinar mulheres a se odiar e incentivando-as a parar de menstruar, pois isso reforça o discurso misógino.

Leiam também:
Fique amiga dela
Segunda Vermelha
Menstruação ainda é um tabu
Pensamentos sobre menstruação
Segunda-feira vermelha, segunda-feira menstrual