A Lys e a Meiroca organizaram uma blogagem coletiva com o tema “valorização da mulher”. É possível falar desse assunto por dias, e é necessário tomar um grande cuidado pra não ser moralista e entender valorização da mulher como recato e vida sexual controlada.

Creio que a principal questão para valorização das mulheres é incentivá-las a serem menos passivas e definirem melhor seus objetivos. Ainda hoje encontramos mulheres que foram educadas e agem sempre para os outros, raramente pensando em si mesmas. De tanto lerem, ouvirem e serem bombardeadas com a idéia de que a função das mulheres é tornar o mundo mais agradável e confortável para as outras pessoas (mesmo que precisem se sacrificar para fazer isso) as mulheres acabam agindo assim.

E aí temos as mulheres adultas preocupadas em agradar aos outros, inclusive sexualmente, sem se perguntar se elas estão satisfeitas com a situação. Temos as mulheres preocupadas com o marido cansado e que assumem mais tarefas domésticas, sem perceber que estão sem dormir e trabalhando mais do que o marido. Temos a senhora das antigas que abafava os gritos durante o parto para não assustar o marido nem as crianças. Temos a mãe que esconde suas doenças para não trazer preocupações para a família, e assim atrasa o diagnóstico e a cura. Temos a mulher agredida pelo companheiro ou parente, e que não quer denunciá-lo para a vida dele não se tornar um pesadelo (mas a dela já é um…) Temos a adolescente que fica calada em sala de aula e se faz de idiota para que seu amigo pareça ser inteligente.

Isso é uma forma extremamente perversa de desvalorização das mulheres, pois as coloca no papel de coadjuvantes do sucesso alheio. Elas ficam tão condicionadas a agir PARA os outros que deixam seus sentimentos e vontades de lado, e aos poucos se anulam, se tornam objetos.

Se puder, ajude a valorizar as crianças para que elas não se tornem adultos extremamente passivos e sem personalidade. As meninas recebem menos incentivos na escola do que os meninos (especialmente quando o assunto são ciências exatas), não são estimuladas a manifestar sua opinião e muitas vezes são consideradas como burrinhas esforçadas. Não deixe que isso aconteça com as meninas com quem você convive. Peça sempre para ela opinar e fundamentar sua posição. Se o raciocínio tiver falhas, explique os erros. Ela entenderá, não os repetirá mais e ainda ficará muito agradecida porque você fez uma coisa raríssima: a tratou como um ser pensante, e não como mais uma carinha bonita e sem conteúdo. Isso fortalecerá a auto-estima dela e dificilmente ela se tornará uma vítima de agressões no futuro.

Não basta estimular os homens a respeitarem as mulheres. Falta, ainda, fazer com que as mulheres aprendam a dar valor a si mesmas. Então, se posso falar e fazer alguma coisa para valorização das mulheres hoje, creio que é fundamental tratá-las como sujeitos, e fazê-las perceber que podem ser protagonistas de suas vidas, ao invés de facilitadoras da vida alheia. Não ignoro quem goste de ajudar os outros, mas o meu ponto aqui é diferente: não aceite que, em troca de ajudar as pessoas, você precise disfarçar sua personalidade, esconder sua opinião ou abrir mão de seus direitos e vontades!