Passei a última semana no Fazendo Gênero 9, talvez o maior evento do mundo para discutir gênero e feminismos. Foi muito interessante, especialmente por causa das diversas mesas redondas e simpósios temáticos sobre violência contra mulheres. Ao final, depois de compararmos a situação brasileira com a de outros países, saímos com a sensação de que o Brasil, apesar de várias iniciativas para combater a violência contra mulheres, ainda está bem atrasado nesta questão.

Essa impressão foi reforçada quando soube que estão divulgando uma “campanha”, na mesma linha da fala da Maitê Proença, usando uma faixa com os seguintes dizeres:

Bruno, só você pode salvar o Brasil. Engravide a Dilma, e depois avisa pro Macarrão e pro Bola

A legenda diz que é uma campanha “pró-Brasil”. Este é o link para a campanha; caso saia do ar, aqui está a cópia da imagem.

O caso Eliza Samúdio não deveria ser motivo de riso, pois não há motivo alguma para rir de um caso de tortura e morte de mulher por causa da recusa de um homem em assumir a paternidade de uma criança. Associar esse caso à eliminação de uma candidata a cargo eletivo, além de ser uma atitude totalmente anti-democrática, é uma forma de banalizar a violência contra mulheres, legitimando agressão, estupro e morte.

Há ainda um complicador nesse história. Na divulgação da campanha, ela foi parar no Mobiliza Mulher PSDB:

RT @Dilze RT @Caradorno Vamos lançar esta campanha Pró Brasil! http://twitpic.com/2iet4f //#euri muitoooo

Ou seja, um twitter destinado à militância tucana feminina não tem pudor de endossar – e ainda rir – de uma campanha que estimula violência contra mulheres somente porque o alvo da campanha é uma candidata de oposição.

Existem feministas históricas no PSDB, e tenho certeza que nenhuma delas endossaria uma campanha de violência contra mulheres, e muito menos admitiria risadas, fosse ou não a campanha destinada a alguma mulher de quem discordassem politicamente.

Combater a violência contra mulheres é uma questão que vai além de disputas partidárias e que precisa ser tratada com mais seriedade no Brasil. Um twitter de militância política deveria dar o exemplo, mostrando empatia pelo sofrimento das mulheres e se recusando a endossar ou rir campanhas que incentivem violência.

[publicado originalmente no Sexismo na política]