Em dezembro de 2015 o programa Esquenta!, da Rede Globo, fez uma edição especial sobre feminismo. Regina Casé iniciou a apresentação do programa lendo parte do meu artigo “Teste: você é feminista?

Escrevi o artigo “Teste: você é feminista?” em 2008 como forma de facilitar uma discussão sobre o que é feminismo. Lá se vão oito anos! Nessa época havia pouquíssimos blogs feministas e não era tão comum quanto hoje que as pessoas se declarassem feministas. Meu artigo foi bastante divulgado e reproduzido desde então, muitas vezes com problemas de citação e referência errada de autoria.

A minha intenção ao escrever o artigo foi esclarecer uma confusão bastante frequente. As pessoas tendem a considerar feminismo como um movimento para patrulhar comportamentos, odiar homens ou enaltecer mulheres. Esses conceitos são equivocados e atrapalham entender o que realmente importa: feminismo é uma luta por igualdade de direitos para que mulheres tenham os mesmos direitos e oportunidades que os homens.

Todas as situações descritas no “Teste: você é feminista?” e no meu artigo anterior “Direitos e feminismo” são formas de mostrar que o feminismo efetivamente modificou o cotidiano das mulheres por meio da luta por igualdade de direitos.

Em “Direitos e feminismo” exponho uma lista das situações discriminatórias que mulheres viviam cem anos atrás e que foram alvo de reivindicações feministas. No “Teste: você é feminista?”, faço perguntas que permitem perceber o quanto ideias que eram consideradas subversivas ou absurdas cem anos atrás se tornaram parte da sociedade atual, mostrando uma luta bem sucedida por direitos.

Muitas das questões apontadas nesses artigos não estão completamente resolvidas. Temos igualdade de direitos entre homens e mulheres, por exemplo, mas sua aplicação é frágil. Ainda precisamos de legislação específica para combater a violência contra mulheres, especialmente a cometida por parentes, e precisamos também de um esforço gigantesco para aplicar essa legislação de forma adequada. Ainda temos mulheres sub-representadas na política. Ainda temos defasagem salarial e poucas mulheres em cargos de liderança nas empresas. Ainda temos dificuldade em respeitar a autonomia das mulheres sobre o próprio corpo, vida sexual e reprodutiva. Divisão do trabalho doméstico e cuidados com filhos e família ainda são grandes obstáculos. Ainda há discriminação específica envolvendo raça, classe, orientação sexual ou de gênero. O cotidiano das mulheres ainda é permeado de situações machistas e tentativas de diminuir seus direitos. Ainda. Ainda. Ainda. Mesmo assim, precisamos lembrar e celebrar as conquistas feministas pois conseguimos ter hoje uma situação muito melhor que a de cem anos atrás.

O movimento feminista continua bastante vivo, é bem forte nas redes sociais e tem recebido cada vez mais atenção da grande mídia. Mas tem perdido o foco da luta por direitos e dificultado diálogos. Tenho me sentido um pouco de volta a 2004, quando comecei a falar de feminismo e primeiro tinha de tranquilizar as pessoas pra depois explicar que era sobre igualdade de direitos.

É importante retomar a discussão sobre direitos. Ela facilita a reivindicação e aplicação dos direitos, e também retoma o foco para que os direitos já conquistados não sejam perdidos. Um passo importante é conhecer a história dos direitos das mulheres e quais são as reivindicações históricas do movimento feminista. Esses têm sido meus temas desde 2004, não só aqui no blog, mas em minha vida acadêmica, e influenciaram fortemente meus artigos, inclusive o “Teste: você é feminista?”.

Por fim, é necessário lembrar que existem pessoas que respondem Sim às perguntas do teste e se consideram feministas, mas agem de forma a prejudicar mulheres e negar os direitos já conquistados. Espero que essas pessoas percebam a incoerência e a corrijam, modificando o comportamento para continuar lutando pela igualdade efetiva de direitos para mulheres.